Um Lugar Silencioso: Parte II (2021), de John Krasinski

Billy Joy Vargas
3 min readJul 26, 2021

--

Tal qual em seu filme antecessor, a narrativa de Um Lugar Silencioso: Parte II progride através do senso de sobrevivência de seus personagens. Contudo, se lá esse universo era essencialmente centrado no sobreviver, aqui há um sentimento de urgência na necessidade de vencer a ameaça em um nível que vá além do núcleo familiar. É através dessa mudança, encadeada pelos eventos que encerram o primeiro filme, que o diretor John Krasinski articula um dinamismo maior para essa sequência.

É como se todo o eixo de ação se invertesse aqui: da ação centralizada em um local, ameaçado no seu entorno pelos monstros, passamos à progressão destes personagens no sentido de um lugar melhor. O embate com a ameaça aqui se dá de modo mais frontal e necessário. E o que de fato faz com que essa Parte II se concretize cinematograficamente como uma mudança no curso das ações, e não somente um apêndice de seu antecessor, é uma rigorosa decupagem, muito bem aliada ao paralelismo da montagem em momentos climáticos.

De modo geral, chama a atenção como o filme consegue se manter dentro do seu eixo e nunca abre mão de ir direto ao ponto. O próprio final parece abrupto, no sentido de que poderia se esperar uma espécie de epílogo pós-tensão, mas nada que não sirva primariamente às situações que encadeiam a ação do filme parecem interessar a Krasinski. Isso fica evidente desde sua sequência inicial, quando um travelling acompanha os personagens de modo a pontuar a tensão para a chegada dos monstros.

O filme se apoia especialmente na montagem paralela para envolver o espectador, um recurso muito utilizado no cinema de ação e terror, e em muitos casos de modo genérico. Aqui, longe de ter esse problema, a montagem faz com que as duas sequências finais do filme pareçam organicamente emendadas dentro dessa ideia de paralelismo.

Krasinski utiliza diferentes recursos para imprimir um dinamismo que, ao invés de desconectar, aproxima cenas que se dão em locais distantes entre si. Por vezes, isso se dá através de algum elemento presente em ambos os cenários, como o fogo. Em outros momentos, e de modo ainda mais interessante, essa transição se dá através do enquadramento em si: um personagem olha para um espaço em off, e esse corte se dá para outro cenário, utilizando um princípio de continuidade impossível em termos de espaço cênico, mas inventivo ao conferir fluidez à ação. De modo complementar, o diretor também se aproveita de movimentos de câmera, como a pan ou o travelling para conectar essas cenas.

Com isso, de filme-sequência que busca transitar no sucesso comercial que foi seu antecessor, Um Lugar Silencioso: Parte II alcança um status de aprimoramento cinematográfico, numa visível evolução de Krasinski no domínio de sua mise-en-scène. Quase um slasher em seu modo de tratar o embate entre forças (a cena do monstro chegando à ilha de barco é um ótimo exemplo de recurso desse gênero), o filme assume de vez um compromisso pela tensão do impossível, num crescente de situações que se emendam e parecem não sobreviver de modo independente, muito menos fora do espetacular que é a tela grande e o som de cinema.

Sign up to discover human stories that deepen your understanding of the world.

Free

Distraction-free reading. No ads.

Organize your knowledge with lists and highlights.

Tell your story. Find your audience.

Membership

Read member-only stories

Support writers you read most

Earn money for your writing

Listen to audio narrations

Read offline with the Medium app

--

--

Billy Joy Vargas
Billy Joy Vargas

Written by Billy Joy Vargas

Propondo ideias e expandindo meu conhecimento sobre a sétima arte.

No responses yet

Write a response