Setembro (1987), de Woody Allen
É curioso como, em Setembro, Woody Allen utiliza de closes nos momentos de maior tensão, tal qual uma soap opera utilizaria, mas o filme em si é uma espécie de negação de qualquer fechamento dramático. Podemos ver isso no próprio clímax do conflito, em que a câmera parece dar um aspecto novelesco e existe uma sugestão de grande revelação a respeito de um evento do passado das personagens (plot clássico de novelas), mas isso fica no ar e não é retomado.

Setembro é um filme que essencialmente aborda um aspecto cruel dos acontecimentos da vida: como as coisas se desenrolam e tudo que acontece ao redor não deixa de existir somente por conta disso. Toda grande cena dramática do filme está sempre concomitante à algo mais acontecendo dentro da casa, nada em off para essencialmente enquanto a câmera capta a situação da vez, e a decupagem de Allen, com os movimentos de câmera rompendo os espaços da casa, evidencia isso muito bem.
Ao longo de todo filme são feitas sugestões a respeito do tempo lá fora e da mudança das estações: os personagens olham pra fora e comentam sobre a chuva, o céu, o clima. A iluminação que entra na casa funciona como reforço disso. Entretanto, em nenhum momento Allen nos dá a liberdade de sair daquele espaço confinado (o máximo que chegamos em relação a isso é na varanda da casa). Isso reforça a ideia de inseparabilidade dos eventos da vida, como nada pode ser tomado à parte nos acontecimentos, como as pessoas entram e saem da vida de Lane e não há muito para onde ela correr.
A reclusão e a autopunição parecem uma saída lógica para a protagonista (nem mesmo nesse sentido o filme se fecha, afinal, ela ficou com as pílulas?), mas essa ausência de fechamento também reforça a ideia de que tudo pode ter um caráter passageiro e que as trivialidades do cotidiano nunca deixarão de existir.