O 3° Homem (1949), de Carol Reed
Situado na Viena pós-Segunda Guerra, O 3° Homem apresenta cenários decadentes, ruínas que poeticamente ressaltam a decadência moral da sociedade retrata. Perseguido pelos esgotos da cidade, Harry Lime se encontra sem saída, cercado por todos os lados, uma metáfora premonitória a respeito da situação política que se estabeleceria nas décadas pós-guerra, com um mundo dividido e uma sociedade insegura a respeito de seu futuro.

Em um dos mais memoráveis filmes noir, Carol Reed articula ideias a partir de uma narrativa altamente estilizada para o gênero e a época. O diretor se utiliza de lentes grande angulares em cenas de diálogo, com a câmera em muitos momentos fora do eixo comum, para evidenciar a moral distorcida de seus personagens. O uso de sombras, característica marcante do cinema noir, e que remete ao expressionismo alemão, é elevado a um nível que acentua todo o mistério por trás da situação de Harry Lime.

É curiosa a escolha da trilha sonora, que se repete ao longo de todo o filme. Longe de ser dramática ou tensa, ela possui um aspecto irônico, como o de uma comédia de humor negro. O que Reed parece propor a partir disso é um conformismo a respeito da situação decadente de seus personagens. Ao invés de conferir um peso dramático a essa decadência moral, a música do filme sugere a irredutibilidade. É como se não fosse possível uma reflexão sóbria a respeito das daquelas pessoas, como se as suas decisões fossem inevitáveis, um produto de suas distorções morais causadas pelos anos de guerra.
Funcionando como o fechamento perfeito de sua proposta, a cena final do filme é a grande marca dessa visão amarga e irredutível a respeito de uma sociedade pós-guerra que parece ter perdido completamente a sua inocência. A partir de um plano fixo, a aproximação de Anna cria a expectativa de um final climático, seja pela construção de um novo romance, ou por um grande conflito entre ela e Holly. Ao invés disso, com uma completa frieza, a jovem segue seu caminho, passando ao lado da câmera, sem ao menos olhar para Holly. É a evidência máxima da total ausência de esperança redentora, um conformismo sintomático de uma sociedade que não tem mais ânimo para finais edificantes.
