Blade Runner 2049 (2017), de Denis Villeneuve

Billy Joy Vargas
3 min readMay 30, 2021

--

O Blade Runner de Villeneuve é um filme que sobrevive, essencialmente, pelas suas distinções em relação à obra anterior de Ridley Scott. Ambientado em um 2049 ainda mais distópico, ao menos hipoteticamente, que o 2019 de Scott, o filme ousa em esclarecer, desde o início, a natureza de seu protagonista. A partir disso, o diretor articula uma espécie de jornada do herói, na qual a empatia pelo personagem de Gosling é muito bem construída através de caminhos inusitados. Entretanto, no afã de entregar uma continuidade aos acontecimentos do primeiro filme, Villeneuve deixa delado o que poderia ser uma grande realização.

Durante sua hora inicial, a unidade estilística do filme propõe uma frieza, um pessimismo com relação a seus acontecimentos, que remete muito ao longa de Scott. Ator de poucas expressões faciais, Gosling entrega aquilo se espera para a atmosfera construída por Villeneuve. Porém, na medida em que a narrativa se desenvolve para uma negação do clássico desfecho do protagonista “escolhido” e “salvador”, ao invés de se entregar para um pessimismo exagerado e niilista, o diretor propõe uma jornada inusitada. O senso de dever do personagem de Gosling é dotado de uma nobreza que vai de encontro ao que se esperaria de um replicante, treinado para matar e desiludido de suas esperanças de predestinação. Longe de romantizada, essa redenção do protagonista surge como uma força da natureza, uma manifestação explícita do que é necessário ser feito, apesar de tudo.

O grande problema é que basicamente toda a parte final dessa jornada se dá através de uma premissa que, mesmo remetendo aos acontecimentos do grande filme de Ridley Scott, é pouco convincente e mal articulada. Chega a ser anticlimático atestar que a tão aguardada reaparição de Deckard é acompanhada do maior problema de todo o filme. Basicamente, em todas as cenas que Deckard revisita algum aspecto de seu passado, o ritmo do filme muda para algo que soa como se Villeneuve estivesse tentando acabar logo com essa parte protocolar de sua narrativa. É também nesses momentos que a fotografia de Deakins aparece mais e, como o todo é mal articulado, parece mais uma tentativa fetichista de chamar a atenção do público para esses visuais exuberantes do que algo realmente significativo.

Portanto, a impressão que Blade Runner 2049 deixa é a de um filme mal articulado dentro de todas as aparentes necessidades de Villeneuve em dar seguimento à história do filme anterior. O consolo de tudo isso, e também o que impede o filme de ser um fracasso retumbante, é que existe uma grande força na maneira com que o diretor aborda o novo, o essencialmente diferente, aquilo que sustenta o filme, até mesmo no meio de toda essa sua esquizofrenia narrativa.

Sign up to discover human stories that deepen your understanding of the world.

Free

Distraction-free reading. No ads.

Organize your knowledge with lists and highlights.

Tell your story. Find your audience.

Membership

Read member-only stories

Support writers you read most

Earn money for your writing

Listen to audio narrations

Read offline with the Medium app

--

--

Billy Joy Vargas
Billy Joy Vargas

Written by Billy Joy Vargas

Propondo ideias e expandindo meu conhecimento sobre a sétima arte.

No responses yet

Write a response