Ato Final (1970), de Jerzy Skolimowski

Billy Joy Vargas
2 min readMay 25, 2021

Jerzy Skolimowski trabalha, com uma maestria impressionante, a imprevisibilidade dos eventos de seu filme. Em torno de um protagonista impulsivo e confuso em relação a seus sentimentos, as ações absurdas se desenvolvem e, de maneira ainda mais notável, a reação a este absurdo também se mostra imprevisível.

Até sua metade, o filme chama a atenção especialmente pela natureza episódica com que retrata suas cenas. Sem grandes indicações de passagem de tempo, o descobrimento do protagonista em relação às suas atividades na casa de banho e também a seus sentimentos é articulado com um caráter que remete às esquetes britânicas de comédia dos anos 60 e 70. As interações entre os personagens possuem tom lúdico, comicamente infantil, os cenários são marcados por um visual decadente e banal que ressaltam uma condição dúbia e marginalizada daqueles personagens.

O cenário que ressalta a decadência e ainda sugere o desfecho da narrativa.

Eis que então, quando já estamos muito bem situados dentro da cosmologia absurda de Ato Final, o filme toma um caminho em sua metade final que o eleva a algo muito mais memorável. Através da busca desenfreada de seu protagonista, por algo que nem mesmo ele tem certeza do que é, as situações absurdas se empilham e nos dão a ideia de que absolutamente tudo pode acontecer até o final do longa. O descontrole do protagonista ressoa no descontrole do diretor. Sua câmera parece apenas tentar acompanhar tudo aquilo que acontece, sem tempo para dramatizar a mise en scène.

Do caos ao controle formalista: um final marcante.

É como um contraponto a esse caos que a carga dramática da última cena advém de uma espécie de retomada de controle por parte do diretor. É impressionante perceber como todo o absurdo e imprevisível do filme parece culminar em uma cena rigorosamente encenada. O final de Ato Final (uma rara feliz tradução de título) funciona como um rompimento, uma pausa na banalidade caótica para que possamos voltar a uma realidade mais dura e consequente.

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Billy Joy Vargas

Propondo ideias e expandindo meu conhecimento sobre a sétima arte.